quarta-feira, dezembro 08, 2004

A PRAXE ACADÉMICA

Estudante de Coimbra que se prese é praxado!

Mal interpretada por uns, mal exercida por outros, a Praxe Académica é e será sempre um tema controverso e objecto de constante debate.
Mas como se costuma dizer: "Dvra praxis sed praxis!" - A Praxe é dura mas é praxe!

Um pouco de História...

A palavra Praxe tem origem na palavra grega praxis que siginifica a prática das tradições, dos usos e costumes. A praxis está de tal modo inserida no nosso quotidiano que quando alguém procede de certa forma só porque era esperado, devido à mecânica dos comportamentos sociais de grupos, não é raro ouvir-se dizer:"Pois...já é da Praxe...".

A história da Praxe remonta ao século XIV, praticada na altura pelos clérigos monásticos, mas o seu contexto mais conhecido aparece no século XVI sob o nome de "Investidas". A Praxe, na época, era na realidade bastante dura para com os caloiros, o que a levou a ser considerada "selvagem" pela opinião popular nos finais do século XIX. A Praxe revestiu-se historicamente de diversas formas, sofreu inúmeras oposições e esteve proibida ou suspensa. Na sequência das crises académicas dos anos 60 (já no século XX) foi vista como um anacronismo histórico e rapidamente votada ao baú da história, de onde sairia em força no início dos anos 80. Desde essa data começaram a florescer centros de ensiono superior, que fizeram com que a universidade deixasse de ser um lugar sagrado, destinado a muito poucos. Simultaneamente, enquanto se descentralizava e democratizava o acesso ao saber, implantava-se a Praxe.

A Praxe de hoje é um conjunto de regras e costumes que têm em vista a preservação de uma tradição, de acolher os novos membros do clã, seja ele escolar, militar ou mesmo do meio trabalhador. A praxe académica assume assim importância, no sentido de contribuir para uma melhor adaptação e integração dos novos alunos que ingressam no ensino superior. Trata-se de uma maneira para que os novos membros se conheçam, socializem entre si e para encetar relações com os membros mais antigos, já anteriormente Praxados.

É de referir que o primeiro Código da Praxe data de 1957 e hoje é comum ver-se impresso em pequenos manuais ou guias da Praxe.

A cidade de Coimbra é bem conhecida pelas suas tradições académicas, intensamente vividas pelos seus estudantes que se intitulam "caloiros", "bichos" ou "bestas", e depois passam a "pastranos", "semiputos", "putos", "quartanistas", "quintanistas", "sextanistas" e "doutores". O aluno é considerado "doutor veterano", "veterano" ou "dux" quando já tem matrículas a mais do que as necessárias à conclusão do seu curso superior.

Só adere à Praxe Acaémica de Coimbra quem quer, mas se aderir tem que respeitar o que o Conselho de veteranos decreta, pois a Praxe é suportada por uma estrutura própria. Os alunos que não aceitem serem praxados não poderão vestir capa e batina nem participar em eventos académicos.

A Praxe Académica de Coimbra vigora todo o tempo, ficando porém suspensa quando não haja toque matutino da Cabra (sino da Torre da Universidade), nas férias do Carnaval, nos três primeiros e nos três últimos dias das férias do Natal e da Páscoa, e também aos domingos e feriados.

A Praxe Coimbrã tem características únicas e inconfundíveis e é muito vivida por todos na cidade. Embora os códigos da Praxe difiram de cidade para cidade pode-se dizer que a Universidade de Coimbra detém o modelo original.

Testemunho...

Fui praxado no ano em que entrei para a universidade e sinto que foi uma forma mais fácil de me integrar no meio estudantil. Conheço excessos praticados em colegas meus de outros cursos, os quais estou profundamente em desacordo (sejam quais forem os motivos invocados), mas só quando se vive o mais irreverente espírito académico salpicado aqui e ali por lágrimas de inexplicável emoção é que se sente verdadeiramente a força da capa e da batina e do ORGULHO em ser estudante da Universidade de Coimbra.

A questão que se coloca perante tudo isto é:

  1. Os limites da praxe são respeitados?
  2. Não se terá perdido ao longo do tempo a verdadeira tradição e monopolizado a forma e o fim para a qual é utilizada?
  3. Que futuro para a praxe coimbrã?

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sou de Coimbra, não estudei em Coimbra... mas sei que a praxe (praxis) coimbrã tem uma tradição longa e única. De qualquer forma todos os caloiros já tiveram o seu próprio contacto com a praxe - em Coimbra, ou em qualquer outro sítio!
A praxe é um ritual de chegada, de iniciação a uma nova vida, onde todos aprendemos - e não apenas nas salas de aulas! Facilita a integração entre os próprios caloiros, dá-lhes a noção de solidariedade e de "sobrevivência"!!!
Os limites dependem apenas do bom senso de quem praxa, ou seja, dos veteranos, que, apesar das frescas "loirinhas", com certeza saberão o que é fazer uso da sabedoria adquirida e do senso comum! Portanto, sem abusar, toca a praxar!!!!!