Há horas na nossa vida em que somos tomados por uma enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa existência e nada parece fazer sentido.
Concentramos a nossa atenção no lado mais cruel da vida, aquele que é implacável e a todos afecta indistintamente: as perdas do ser humano.
Ao nascer, perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do útero. Estamos, a partir de então, por nossa conta. Sozinhos. Começamos a vida em perda e nela continuamos. Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo, outras possibilidades nos surgem. Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os braços do mundo. Ele nos acolhe: nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói.
E continuamos a perder e seguimos a ganhar.
Perdemos primeiro a inocência da infância. A confiança absoluta na mão que segura a nossa mão, a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas por que alguém ao nosso lado nos assegura que não nos deixará cair... E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por quê? Perguntamos de tudo a todos. Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.
Estamos a crescer...Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e conquistando outros. Neste ponto, vivemos em grande conflito. O mundo parece-nos inadequado aos nossos sonhos. ah! os sonhos! Ganhamos muitos sonhos. Sonhamos dormindo, sonhamos acordados, sonhamos o tempo todo.
Aí, de repente, caímos na realidade! Estamos a amadurecer. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados. Perdemos a espontaneidade. Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo. Mas não é justamente essa a condição que nos coloca acima (?) dos outros animais? A racionalidade, a capacidade de organizar as nossas acções de modo lógico e racionalmente planejado?
Que a gente cresça e não envelheça simplesmente. Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massage. Que tenhamos rugas e boas lembranças. Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia. Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos.
E, principalmente, que não digamos apenas eu te amo, mas ajamos de modo que aqueles a quem amamos, sintam-se amados mais do que se saibam amados.